ESTABANADA
Acho que esta mania de me autosabotar não me levará a lugar algum e ainda me tirará mais do meu centro. É inaceitável ver meus sonhos no caminho certo. Prefiro meus medos. Eles são minha melhor companhia. Me fazem pensar e não me deixam parecer boba. Me impedem de falar com as pessoas. Com algumas pessoas eu não deveria falar jamais. Simples assim. Silêncio.
O grande. O maior. O silêncio escuro. O escuro do meu quarto e os meus medos enfileirados na estante. Grudados aos meus livros. Os meus medos. Os meus modos. Grudados. Meus medos fazem parte de mim. Não consigo ver tudo bem. Sempre invento um amor novo quando tudo está bem. Te perdi porque achei que queria ele. E quando ouço a nossa música percebo que o queria era sofrer. E você estava impedindo. Entravando. Me fazendo feliz. As suas imperfeições. Os seus medos juvenis. Piores do que os meus. E eu sai. Nem olhei para trás. Deixei o tempo me levar pra longe de você. Queria você aqui. Sentado. Me olhando com aquele olhar de que eu estava quebrando tudo. E você nem ligava que eu quebrasse tudo. Você sabia que eu sempre quebro tudo. E no final me quebro inteira. Quando eu percebo que o final chegou e isto pode ser tanto tempo depois. Tanto tempo. Percebo que você foi. E eu nem te pedi para ficar.
Queria abafar meu cérebro. Engolir esta ansiedade que me engole inteira. Flutuo. Vou arrastada pelo mundo. Bêbada. Equilibrada no meu mundo. O meu mundo. O mundo que eu invento e contraceno. Eu sou a protagonista da minha vida, buscando locações e escrevendo minhas falas. Brinco com a vida. Rodo-a em meus dedos. Confundo tudo e te confundo inteiro. Me divirto com as suas fraquezas e a sua incapacidade de me deixar derrubar as coisas. Você tem preguiça de abaixar. Mas eu continuo derrubando. Eu, sempre, derrubo tudo.