quinta-feira, junho 21, 2007

FORTUNATO

Resolvi ser de verdade e aceitar. Aceito todos meus fantasmas vestidos de noivo, esperando cada um a sua hora, para que cassemos e finjamos por aí que somos felizes. Como todas as pessoas que casam uma vez só. Eu não. Eu vou casar um milhão de vezes. Com cada um dos meus fantasmas. E vou deixar eles me usarem inteira. Porque eu devo ser uma pessoa possuída por um cérebro que não é meu. Eu gosto da minha unha vermelha, dos meus blazerzinhos, do meu all star branco e do meu brinco de argola mesmo que ele distoe de todo o resto. Já o meu cérebro ele gosta e joga no teclado coisas que não estavam aqui quando eu subi a ladeira da faculdade fumando um cigarro que me deixou molinha por uns 15 minutos. Deve ser alguma entidade, mal resolvida, ou é um dos meus maridos. Porque agora meus fantasmas passaram a ser tratados como maridos e os eventuais serão amantes. Se não tem homem de verdade por aqui, neste momento, porque eu estou vaziazinha e adorando esta fase (mentira). Vou desfilar pela vida de mãos dadas com meu novo marido. O que tem medo do futuro. Este é meu marido. Ele chama Fortunato. Fortunato teme o futuro. Vou contar o começo da nossa história de amor. Bonita história de amor. Desde quando eu era uma criancinha, o Fortunato ficava ao meu lado me observando e já dizia que casaríamos um dia. Eu não dava bola para ele, porque era a época do meu amor juvenil, o Paulo, sim o meu primeiro amor chamava Paulo eu gostei dele até ele operar de alguma coisa que não sei bem o quê até hoje.
Era um amor puro, até me contarem que ele ia operar uma "pelinha que fica lá". Como eu não sabia lá onde. O amor passou. Então o Fortunato se aproximou, quando tive que mudar de escola eu até dei uma chance pra ele. Eu e o Fortunato conversamos sobre o futuro. Eu dividia o medo com ele, mas o meu medo era momentâneo e o Fortunato também seria. Doce ilusão. Tive que mudar de escola outras tantas vezes, à medida que o dinheiro escorria pela conta da família. E o Fortunato sempre presente. O medo do futuro e o Fortunato. De repente passei três anos sem pensar no Fortunato. E agora, eu resolvi que a gente vai casar para eu ter alguém com quem dividir o meu medo do futuro. Às vezes eu o traio. O Gónario o que tem vergonha de quem ele admira me ataca e eu deixo o Fortunato de lado uns dias para me dedicar a ele. Agora, no presente momento, estou comprometida com o Fortunato. Até mais e além.


*e o próximo texto, é meu centenário.
100 textos de claritromicina