MATAR O QUE TE MANTÉM VIVO
Acho a coragem uma dádiva humana, das mais preciosas, se não a mais preciosa. Não é paciência que me falaram no telefone, semana passada, a maior das dádivas. Mesmo porque jamais me convenceria de que não possuo a maior dádiva humana. Não possuo paciência, assim como não possuo reais, assim como não possuo a vontade de fazer o que me mandam, só na hora que eu quero e ponto. Eu quero muito uma coisa, mas se me mandarem querer aquela maldita coisa, não vou querer mais. É um saco. Porque as vezes eu realmente preciso daquilo, naquele momento e só.
Agora eu fico aqui remoendo minhas entranhas e lembrando de coisas que nada tem a ver comigo. Só pra poder chamar o mundo de cuzão e repassar mentalmente a história de algumas pessoas. Então comecei a esmiuçar a morte de um monte de gente desde cedo. Nem sempre minha memória me ajuda e o google estava de mal de mim. Então vou as óbvias para chegar onde eu quero . Caio Fernando Abreu, Hunter S. Thompson e Kurt Cobain. Três vidas distintas unidas por um mesmo destino. Aquele de quem escolhe a fuga como caminho mais fácil.
Eu acho o suicídio a pior maneira de calar. A dor. O medo. O pânico. A frustração. Todas estas coisas que as pessoas sentam a janela para espiar o mundo lá fora e se perder dentro de si. Encontrem o caminho de volta. Nos gritos. Nas lágrimas. No fim de romances ou no começo deles. Inventem. Vivam em palavras se for o caso. Mas não deixem o mundo pela porta dos fundos.
Todo mundo pode ser genial, todo mundo é um pouco gênio, mas a genialidade é água que escorre pelos dedos. Três pessoas que tem minha admiração. Em campos diferentes, deixaram a genialidade escorrer pelos dedos e abriram a porta dos fundos. Aquela por onde sai quem não tem coragem de levantar a cabeça e seguir.
Ferir o que te mata. É matar o que te mantém vivo. Para Kurt Cobain, seus pensamentos o mantinham vivo, enquanto o estômago doía de forma inexplicável. Thompson tinha no coração as entranhas molhadas de combustível e a cabeça sua ligação com o mundo. Tiros na cabeça . Silenciar. Talvez a morte não passe do silêncio incomodo da sala de espera. E a vida não seja nada mais do que a ante-sala do médico. Dos médicos. Da casa das pessoas. Da prisão incomoda que a gente se mete sempre quando a preguiça de ir viver lá fora bate. Do caio fernando abreu eu desisti de falar. Mantenha imaculada a alma de escritor que ele tinha. Deixe na minha memória os fragmentos de dor que ele deixou antes de partir pela porta dos fundos.
Esmiúço minha vida em palavras. Vivo nestas palavras o inferno que não é meu. Renego o paraíso quando ele se aproxima. Deve ser muito chato viver no paraíso. Deixo ele para os censores, para os que não conseguem manter o olhar, para quem não tem coragem, para anônimos e homônimos. Deixo para as verdades parciais ou as inventadas para embebedar as pessoas. Não minto. Sou eu aberta pro mundo ver. Assumindo todas as conseqüências de deixar todos os dias minha vida pela porta da frente, de cabeça erguida, com os bolsos vazios e a dignidade inteira. É um diário. É um fotolog. Um blog. É meu. Protegido por direito autorais e o diabo. Cuidado com meus demônios rodopiando pela sala. Cuidado.