OBEDIENTE
Estou cansada desta forma dramática que soa a minha vida. Existe drama aqui e um monte dele. Mas algumas pessoas precisam começar a enxergar a comédia que existe na minha desgraça. Soa utópico. Minha vida inteira é. Todos os caminhos se cruzam e viram tortuosos. Até ir até a padaria pode acabar em uma história. Meu cérebro e minha vida trabalham sem descanso. Nem quando durmo as coisas parecem largar minha perna, meus monstros chatos ficam zunindo a noite inteira e puxando o edredon pesado e amarelo. Acordo a noite inteira em saltos, sem abrir os olhos, com medo de encontrar você no meu quarto olhando através da janela de madeira pesada. Meus medos andando na rua de baixo. Meus problemas forçando o portão. Minha vida suspensa no quarto escuro enquanto os monstros puxam meu edredon e você espia as coisas lá fora. Parado na frente da minha janela. E eu ali imóvel e os olhos fechados. Tenho vagado nestas noites que você me espia. Ando bêbada na noite, em companhia de santos e profanos. Acordo todos os dias com uma idéia rodando na minha cabeça, corro pro teclado para pregá-la nesta tela branca e o que me vêm são só as lembranças de uma noite que não tive. Aquela na qual você espiava pela janela fechada e eu vagava entre o sagrado e profano. Sem sentido algum. Sem nada fazendo sentido. Muda e obediente e só.