Outro belo pôr-do-sol
Quando voltei me vi lendo os textos que marcavam o fim daqueles anos dourados. O auge da adolescência naquelas lembranças. Aquelas paredes não dizem mais do que a minha cabeça. As guerras de pinhas dos meninos e eu falando "meu, isso machuca", os vídeos nas externas, as conversas nas escadas, as aulas matadas no mastro, as horas dormidas no bloco 2, os dias sentada no bloco 3, os horários que eu fiz milhares de bixos copiarem e não usei sequer um, as piadas que se completavam e as histórias que nasciam ali, aquela ida crucial ao playcenter que me renderia meu primeiro beijo um mês depois, as histórias dividas, as risadas, as milhares de brigas, as lágrimas e o colo que representamos, as viagens, piscina fria à noite no sítio da sá e duas garrafas jogadas fora porque ninguém queria se entorpecer com nada que não fosse aquele momento, os jogos da verdade com broncas dos seguranças do metrópole, os campeonatos de futebol, meu braço quebrado, ouvir música na educação física, não aprender nada de química para correr dois dias antes da prova, aprender sozinha por lógica PTC (projetos técnicos e científicos) e ter nota por entender os espelhos sem saber uma fórmula. Tanta história e aquelas paredes não dizem mais do que a minha memória.
Às vezes é preciso ter por perto o seu porto seguro e descobrir que tudo isso é móvel. Aquele prédio e a nostalgia desenfreada, que sem querer me fechava os olhos injustamente para o meu presente, ficou na conversa regada a brigadeiro na casa de uma amiga, quando ela perguntou das novas pessoas, e eu pensei imediatamente em três rostos. Não é preciso acabar com o passado, mas dar a ele o peso necessário ajuda a deixar o presente melhor e mais leve.
Sis, mesmo querendo colocar fogo nas externas, eu não imagino o que seria de mim sem você nesses dias.