sexta-feira, abril 25, 2008

baby, it's a fact

Sentou no mesmo lugar de sempre, o mesmo pedido de sempre, com a própria companhia como sempre. Mas havia algo de estranho com ela. Os dedos passavam infinitas vezes pelo seu cabelo e o seu rosto era coberto pelas mãos vez ou outra, parecia que tentava devolver com elas o sorriso desaparecido.

Ela já não tinha ele e isso trazia um misto de alivio e dor. Dor? O jeito que a vontade chegou ao fim, sem aviso, e mesmo que tentasse reanimar aquele sentimento vazio, era como segurar uma sacola pesada demais para carregar e importante, naquele momento, para deixar ficar. Mas o que fazer quando nem nela existe vontade? Era melhor deixar o fardo e carregar esse misto de reações opostas.

Queria se render ao mundo e as possibilidades. Queria tudo, e na sua cabeça a confusão continuava. Ele tinha sido sua última fuga do outro. Achou que em seu corpo encontraria refúgio para o caos iminente. Se preparava aos poucos para se render e render. Queria escrever mais, falar e ficar mais em silêncio, sorrir mais, queria mais do que teve naqueles dias. Os dias em que estiveram juntos tinha levado o passado e apagado o presente, substituiu isso por dias bons, acabados. Ele carregou o presente que ela não sabia/queria viver sem.

No mesmo lugar de sempre, com o mesmo pedido de sempre; notou: não tinha porquê fugir de si.

Pagou a conta. Ligou o mp3 e sorriu enquanto pensava que ele, o último, finalmente tinha deixado ela voltar a sonhar e ser livre. Os sonhos e a liberdade caminhavam com a simplicidade que poderia existir no caos do outro.

Ela queria com força de criança. A voz trêmula, os passos no ritmo da música, e os pensamentos eram dele. No número dele, o caos e o paraíso em um só corpo, com aquela cabeça cheia de piadas e mistérios.

- hey, você? devo fechar as janelas? hoje cai uma chuva de estrelas, um milagre, como é ouvir sua voz.
- nenhum milagre é maior do que você me atender assim, depois de tudo.
- tudo? tudo o que?
- tudo.
- sim, tudo que não importa, é a sua liberdade e é daquele jeito que te contei: não sabia conter liberdade. teria você aqui pelo tempo que quisesse, que quiséssemos. você foi pelo caminho mais fácil e eu continuo aqui.
- saudades.
- de que? - ele perguntou em impulso.
- tudo que só você me dá.
- o tudo é seu, garota. nunca te dei nada, o que tem em você, falta em mim. trocávamos enquanto te levava a mexer nessas coisas escondidas. só te tirei do meio daquilo que você julgava certo, mas você voltou.
- voltei, agora, para você.
- e ele?
- ele é você. dele, eu tirei a certeza que é só você.

com o sorriso na voz ele disse:
- então vai pro café de sempre, pedi o de sempre e eu vou como sempre. por hoje, sempre seu.

A falta dele é simples de entender: ele entendia, ouvia, falava, brigava, xingava e a pedia calma.

Um café, dedos brincando, e ele a levou para casa: deles.