quinta-feira, abril 17, 2008

Carta

O dia continuava nascendo, pelos dias que seguiram e eu só queria apagar a luz e fazer dos dias todos noites, mas o dia nascia e eu imaginava o mau humor matinal dele. Do jeito que ele acordava com o sol no rosto naquele apartamento minúsculo sem cortinas. A solidão me machucava e os pensamentos duravam os instantes de um banho. As mensagens matinais de quando estávamos separados ou o braço pela minha cintura como se quisesse me colocar na frente do sol, na frente dele e de todos os problemas do dia que começaria, já não existem e faz quase um mês. Vinte e oito dias e 6 horas, alguns minutos, outros segundos e infinitos milésimos. O meu celular lembrava ele, os meus caminhos, a minha vida, tudo tinha o cheiro dele.

Era hora de enfrentar o dia e as pessoas. Enquanto ele ainda devia se debater no seu apartamento com pequenos passos possíveis. Se enroscando entre filmes e com pensamentos pessimistas quanto ao futuro e o salário de fotografo.

O seu trabalho escreve palavras diferentes das horas que passo colocando letras em um computador. Você usa da luz e faz texto com a subjetividade da vida. Usa dos dicionários pessoais ao invés dos que uso.

Me contaram que você anda mais magro e a sua barba não feita me dá saudades do passado. De um mês, minto de 28 dias, 6 horas, mais minutos e milésimos. Não te dei um porquê, não existe, e os cigarros devem ser o cheiro predominante no seu quarto. Quanto tempo você deixa as janelas fechadas? Quantos cafés você tem tomado? Onde estão os seus amigos? Ouve as suas músicas, lê seus livros, tira as suas fotos e me faz feliz.

Hoje entre as suas contas, as propagandas, convites para lançamentos deve chegar a minha carta. E quando você ler, finalmente, vai ser hora de colocar a roupa de cama para lavar.

O interfone tocou e não é você.



baseado nesse dele.