segunda-feira, abril 28, 2008

ask me why,

Foi em uma manhã quente que ela andou pelo centro da cidade como se estivesse transitando pelo seu centro. Nas ruas os seus pecados se misturavam em ruazinhas, os seus medos esbarravam em prédios enormes, os sonhos atingiam o céu azul manchado por concreto no seus pés. Sempre achou que o céu começava no topo do prédio mais alto da sua cidade pintada de ilusão.

Tinha tudo aquilo, havia ouvido as palavras. Acreditava no mundo. Pensava sempre nele. Queria falar com ele, falar dela, dele, deles, queria retomar os acertos, apagar os erros, queria consertar desde o começo aquele momento fadado ao fim sem explicação. Era a a manhã de um sábado e a noite de sexta parecia ter sido apagada com uma leveza estranha. As pernas faziam o caminho da casa dele. Chegaria lá sem saber o que a levará, chegaria lá, depois de fechar aquela mesma porta atrás de si e dizer nunca mais. Vinha usado mal as palavras, não entendia os sentimentos dele e de repente, lá estava ele sendo compreendido por outra. Achou que era hora de sair do jogo e deixar compreensão.

Queria olhar pra ele mais uma vez e ver quanto era costume, queria medir o costume e a vontade de ficar para sempre ali, aos pés dele. Não ficaria. Jamais ficaria aos pés de alguém, dele ou de qualquer um, não sabia ficar no chão muito tempo, sua vida exigia paixão para continuar. Um livro, filme, uma pessoa, não importava a que. Seguia apaixonada então pelos passos trocados com a solidão em madrugadas quentes.

Só precisava mais uma vez olhar nos olhos dele. Contar que sentiu saudades naquele show, falar do filme e de como sem ele não tinha feito sentido nenhum, xingar por ele não ter aparecido naquele dia do cara lendo coisas que a levaram do chão para a cadeira, sentada e obediente. Falar como as palavras tinham feito companhia e como as ouvia. O prédio e o cheiro eram velhos conhecidos, as paredes do elevador e o sorriso para a câmera com o bom dia gesticulado que eles davam todas as manhãs para quem perdesse tempo assistindo aquelas fitas.

De repente os passos dela pareciam fazê-la entrar direto em um corredor cheio de lembranças. Sorria pra algumas, pensava em fugir de outras e de repente viu que sua vida estava naquele corredor. Era tudo que lembrava e o que construía. Era simplesmente complexa.

Mudou o sentido e de repente ia em direção a sua casa, foi quando viu ele subindo a rua, sabia que se encontrariam assim. Um indo e o outro voltando. Aumentou o passo decidida a continuar, foi quando com um sorriso dele desarmou a construção inteira. E falou:

- a compreensão.
- a incompreensão.
- essa me deixou seguir com os sonhos.
- e qual é o sonho?
- ter a compreensão sempre ao meu lado.
- opa, boa sorte.
- você dá sorte.

Nesse segundo tudo voltou para aquele corredor cheio de lembranças.