TORCH
No começo eu achei que jamais ia poder ouvir aquelas músicas sem carregar você. Até que as músicas pararam de pesar e deram aos fatos o gosto das lembranças. Achei que só a sua banda seria marcada pelo passado, mas agora, em todas as letras tem você, as letras daquela cantora. O nosso amor em dois mundos diferentes.
Falta do seu cheiro e de tudo que ele passava nas manhãs de poesia que você fez sem notar. Falta do seu estilo e do jeito relaxado como você amarrava o all star. Saudades da sua pureza e de como você ria quando não tinha o que dizer e, sem dizer nada o seu sorriso eram as palavras mais bonitas. Sinto falta de como você encara a vida e do jeito que o caminhão de problemas na sua porta sempre viraram piada, a pollyana fazia festa nas suas histórias, quando você ligava para me tranquilizar e falava "tô bem, garota, poderia ser pior" e depois disso vinha uma das suas sacadas geniais com a ironia do universo.
As suas gargalhadas, o jeito que encostava na parede para sorrir, e como balançava o corpo ou deitava sobre o braço quando não se continha. Não era preciso muito para você me fazer feliz, o jeito simples que as suas piadas encaixavam e como era bom te ter sempre por perto. Sinto falta dos nossos papos nos finais do dia e como um 'bom dia' na manhã seguinte parecia fazer renascer uma vida inteira, mesmo que estivessemos separados pelas suas poucas horas de sono e pelo meu sono quase comum.
As coisas das quais sinto saudades, são os momentos para quem sente devagar o mundo se colorir em possibilidades, o momento em que você descobre amar os detalhes e como dói perder eles. Dias de dolorosa melancólia, nunca achei que tivesse um dia que me desapaixonar por você. As suas escolhas foram feitas e no seu jogo eu não encaixo mais. As minhas também, só que eu estaria disposta a mexer no meu baralho, se você quisesse.
Sinto falta do seu pescoço, do jeito que caminha e como corre nas manhãs de um dia frio. Saudades de te ver dividindo comigo o que escreve e tentando me fazer entender que era simples, mesmo que eu te olhasse quieta e você notasse que não entendi, não entendia, talvez hoje eu me esforçasse mais ou te pedisse para olhar aquela frase de outro jeito. Mas você não faria, jamais tiraria de um texto o que é você, e de você, você sempre achou que entendia. E nas suas convicções era você, eu e o mundo, além daquele caminhão de problemas na frente da sua casa. Sinto falta de te ver entrando pela porta, sorrindo, se desculpando pelo atraso, esquecendo o mundo e sendo por ele esquecido enquanto me envolvia em um abraço que terminava com um beijo apertado no rosto, como se eu fosse a sua menina. E depois de largar o meu rosto encontrava meus lábios até nos olharmos em sorrisos.
As viagens, diversão e os seus loucos amigos adoráveis. Engraçado como você conhecia as mais diferentes pessoas e atendia ligações grudadas umas na outra, e resolvia com todos como usaria o tempo. Sinto falta de ver você amando meus cachorros e outras coisas para as quais você inventava apelidos seus e fazia de tudo um pouco seu também. Meu quarto nunca mais foi o mesmo, se dividi entre antes e depois de você notar as coisas, juntar os pedaços e me fazer sorrir por entender entre brincadeiras os detalhes que a vida criou e eu não notei.
Mais um passo, uma música, outras palavras, alguns livros, a falta do Kardec, a sua falta. Eu me mantenho firme, simulando, seguindo em frente.
Sinto falta dos seus abraços e nos outros braços nenhum jamais é o seu.
ps: Torch é uma música do cd novo da Alanis Morissette, que só sai dia 30 de maio. :\