quinta-feira, maio 08, 2008

Even an end has a start

As últimas brigas matavam a verdade, porque já não existia tudo em cartas abertas, talvez nunca tivessem baixado tudo, não tinha contado o último medo. Aquele que a fez recuar diante dele, quando suas mãos a envolveram pela cintura e ao invés de selar o momento, resolveu se virar. Contar que foi no abraço que se entregou, e só quando se sentiu pronta e protegida soltou devagar, até os olhos voltarem a se encontrar e os lábios fazerem o mesmo caminho. Não contou seus motivos e apagou a importância da cautela naquele instante. Não importava nada: passado, presente, futuro ou não saber se entregar. Não conseguiria depois daquele primeiro beijo. Mas já contava com a perfeição injusta dele em saber exatamente como fazer ela seguir. A tratou como a primeira dama do reino das palavras. E a sua voz a invadia todas as vezes que lia qualquer coisa que a fizesse suspirar no fim, era assim que via ele, o causador de suspiro, um amor para não ser amado. Os sentimentos faziam o caminho inverso da razão e as suas resoluções eram cada vez mais frágeis. Sentia em um nó todas as coisas. Queria, viver ou morrer, fazer qualquer coisa que o certo e errado não a deixavam. Um passo que não sabia como dar.

Via ele dormir como uma criança, agarrado ao travesseiro, enquanto buscava o começo na memória e o começo tinha sido toda confusão das últimas linhas. Agradecia a cada novo "bom dia" a escolha feita, ou refeita e desfeita tantas vezes. Ninguém negaria que existia algo ali, enquanto ele passava as mãos pelo cabelo dela, mas só eles pensavam como aquilo era bom. Se ele estava por perto, era desnecessário se preocupar, foi assim que percebeu: as discussões eram os degraus que subiam, e ela sabia, estaria ali com ele naquele sentimento calmo, as frases se completando, os gostos se repelindo, as diferenças e semelhanças misturadas em melodias simples.

Era uma certeza, e certeza é uma dessas coisas particulares demais para se tornarem palavras.


Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu


Chico amor Buarque