CULPA DO PASSADO
Eu fui aquela criança hiperativa. Imaginando que o nó dos meus dedos eram outras grandes coisas. Olhando os meus brinquedos como pedaços de uma cidade que construiria mais tarde. Fazendo dos desenhos da tv, filmes inteiros. Rabisquei paredes, incontáveis vezes. Quebrei várias coisas que minha mãe remendou e quase me matou outras tantas. Irritei na minha fase 'zequinha'. Lia todas as placas em voz alta e na minha cabeça os outros só saberiam se eu falasse. E eu falava no ônibus, no carro, nas calçadas. Eu falei tanto. Andei de carrinho de rolimã, bicicleta, patins, pulei muro, perdi uma bola de vôlei para a roda de um maldito caminhão que passou por cima dela. Morei em rua sem saída e condomínio fechado. Mentiram pra mim. Amei muito alguns animais. A xuxa, o cachorro do meu primo, o pastor alemão que eles mataram e me fizeram acreditar que era um erro dos outros. Até que minha mãe achou que depois de seis anos eu já poderia saber, o cachorro foi sacrificado.
Cresci e fui ser a menina com uma grande mochila no centro de são paulo. A que depois descobriu em palavras o seu refúgio. Nas músicas o ritmo que faltava e na vida a graça que ela sempre imaginou.
O tempo foi passando. Sem que eu adiasse. Com os planos dos meus gibis. A força da mônica, as idéias infalíveis e fracassados do cebolinha. As músicas dos saltimbancos. A minha época misturada as outras. Como tudo sempre é. Uma mistura: a minha vida.
E tudo ainda está por vir. Sem bobagem e tanta amargura. A vida é dura e eu quase me acostumei. No momento eu preciso me entregar. Ser a mulher de liberdade, um amor de verdade, te fazer fechar os olhos e sorrir. Pensar que dali pra frente, não importa a minha idade, o melhor está por vir.
ps: outra música da mesma banda, não posso falar qual, quando for lançar o cd: palavra de índio, eu falo aqui.