segunda-feira, março 10, 2008

MEDO

Eu te falei do meu mundo, algumas vezes, do jeito que ele é. Com as coisas que poucos conhecem. O meu mundo colorido, cheio de música e o jeito que não me permito pesar. Não gosto de me carregar, então vou leve, deixo que a vida faça o resto. Deixo problemas em mesas esquecidas. Resolvo tudo no tempo das coisas.

O meu pai me olhou com olhos de preocupação e não falou tudo que tinha para dizer. Os olhos dele me pediam para parar de ser assim com o meu corpo. Prestar atenção nas dores que não respeito. Com não comer por muito tempo, ou comer mal, tão mal que o estomago é apelido carinhoso para qualquer coisa que importa pouco. Ele me pedia com os olhos para me cuidar. E por ele, por nós, por mim, não quero saber. Nem fazer nada. Se eu estou com medo? Claro que sim. Medo de me perder dentro de uma coisa que não quero lidar. Medo do meu corpo pagar a conta de qualquer coisa que ainda é cedo para ser cobrada. Eu preciso da sis, eu preciso falar, eu preciso ficar em silêncio e eu preciso ouvir.

Cada vez que eu fujo, me aproximo mais, a fragilidade. Você conheceu a porra da fragilidade que nunca mostrei para ninguém. Sabe, comprei uma dúzia de infância no fest comix, e sorrio de um jeito puro das piadas de criança. Entendi que poderia ter sito dislexia e falar errado por culpa do cebolinha. Entendi que minha infância não acaba. Minha adolescência também não vai. E minha vida adulta é o que represento nas horas em que preciso de responsabilidade.

A força que eu sempre guardei dentro de mim. O meu amigo falou uma vez que eu sou o isqueiro da minha própria história. Que eu não vou pegar fogo se não acender a brasa. Eu acendo você e me deixo queimar junto. Com a coragem que você precisa para se enfrentar. E do resto que ninguém nunca vai entender. Nem se passar os dias tentando explicar. Porque eu não preciso ser engraçada, nem falar sempre, nem sorrir, eu não preciso ser nada porque perto de você ser eu basta.

Me basta.

De você eu tenho um silêncio enorme. E a compreensão dos outros. Porque sempre vai ter um para achar que sabe. Você pode ser um produto maravilhoso da minha imaginação. Um personagem de qualquer livro que li. Pode ser um filme. Você pode ser nada e ser tudo na mesma simplicidade. Você é tudo que ninguém sabe que é. E pronto. Pronto. Se existe ou não existe, só o maldito tempo vai dizer enquanto me encaixa preocupação. E os malditos exames que não podem mais esperar. O corpo pedindo para parar e eu continuo. Porque eu sempre continuo. Eu não largo a mão da vida. Nem dos sonhos. Eu não deixo meu mundo afundar em abismos. Guardo problemas e sorrio. Sorrio porque assim fica mais fácil.

As bolinhas deslizando certeiras na mesa hoje me fez ver como eu aprendi a controlar minha força e mirar nos objetivos. Como a paciência e os erros podem provocar acertos magníficos como foi aquela bola roxa caindo na caçapa. Como é sempre o depois de tudo que desprende o meu estomago e me faz ter raiva. Hoje, eu tenho raiva de tanta coisa, tanta coisa. E eu sei que você sabe do que é. Do seu jeito, você sabe, e do meu jeito eu guardo as coisas no lugar delas. Acordo cedo amanhã e vou ver a sis.