AO PASSADO
Não que eu não tivesse medo. Mas eles sempre foram diferentes. Nunca temi o tempo das coisas. Se durariam uma noite ou uma década. Nem esperei nada dos outros. Aceitei os finais como necessidade de mais espaço. Foi assim desde a primeira vez. Ele queria jogar e eu queria ficar nas externas sem ter que segurar a camiseta ou esperar ele voltar suado. Na verdade eu desisti dele no dia que ele discutiu com os outros, com a ex. Porque minhas amigas provocaram a menina que já não gostava de mim, e pouco me importava. Mas ele me defendeu e eu não quis ficar para ver o resto.
Das outras vezes a vida se encarregou. Eu sempre temi não saber começar. O tempo é tão indiferente. Tudo depende da intensidade dos dias e da força que eles despregam em continuar. Ontem, a minha amiga ligou e por quatorze minutos eu estive com a garota mais feliz do condado. Tá tudo difícil. Ela reclamava e fazia piada da vida. Ela me fez uma pergunta dispensável: 'sue, você já acostumou?'. A pergunta é dúbia em dezoito letras. Desprendi a resposta em um sorriso e ela entendeu. A nossa adolescência foi uma piada e hoje os dias são mais leves porque o peso ficou naqueles dias. Os erros e os acertos. As confidências silenciosas no quarto de hotel. Eu levantar e pegar ele pela mão. A gente sentado na porta e eu tentando entender que sentimento o tinha nocauteado. Não era o meu garoto sorridente, o mesmo que me derrubava na frente do bloco três. Tinha confusão no seu olhar e felicidade nos gestos. Eu tenho tanto orgulho deles. Eu tenho orgulho de todos que conheci e por opção, ou falta dela, são o que são.
Os ignorantes não são mais felizes.
ps: você não frequenta os mesmos lugares e nem queria nunca mais ver. Mas, eis que encontro o suado em questão, no MEIO de São Paulo. E eu, realmente, sei quando não devo esperar.